Matéria da Revista Veja de 28 de julho de 2010.
Um encontro casual em uma rua de Jerusalém há dois anos mudou a vida do
árabe israelense Sabbar Kashur, de 30 anos. Ele fazia entregas em um mercado
quando uma mulher judia puxou conversa. O rapaz se apresentou como "Dudu" -
diminutivo de Daniel entre os israelenses -, e não mencionou que era casado
e pai de dois filhos. Os dois foram para o quarto de um hotel nas redondezas
e fizeram sexo. Depois, a mulher descobriu sua origem árabe e o denunciou à
polícia, alegando ter sido estuprada. Kashur foi detido e desde então
esperou o julgamento em prisão domiciliar. Na semana passada, foi condenado
a dezoito meses de cadeia. A Justiça entendeu que ele é culpado porque
sugeriu ser uma coisa que não era - judeu - para seduzir a mulher, cuja
identidade não foi revelada. "O tribunal é obrigado a proteger o interesse
público de criminosos sofisticados e de boa conversa que podem enganar
vítimas inocentes a um preço insuportável: a santidade de seu corpo e alma",
disse o juiz Tzvi Segal. Em Israel, o estupro é punido com até dezesseis
anos de prisão. Para aliviar a sentença, o réu admitiu a culpa e foi
condenado pelo crime menos grave de violação sexual mediante fraude. "No
Brasil, também existe essa figura jurídica, mas ela se aplica a situações em
que o violador tem uma posição de poder e usa argumentos enganosos, como uma
promessa de emprego, para convencer a vítima a fazer sexo", explica a
advogada criminalista Fernanda Tórtima, do Rio de Janeiro.
Para o jurista Kenneth Mann, da Universidade de Direito (sic) de Tel-Aviv, o
veredicto foi exagerado e pode estabelecer um precedente perigoso. "A
sentença abre a possibilidade de um homem ser acusado de estupro toda vez
que mentir a uma mulher para fazer sexo com ela", diz Mann. Na condenação de
Kashur, que ainda pode ser revertida pela Corte Suprema, há uma agravante: a
intolerância religiosa. Os árabes israelenses compõem 20% da população. Eles
são cidadãos com passaporte do país, mas identificam-se mais com os
palestinos. O relacionamento amoroso entre árabes e judeus é um tabu para
ambos os grupos, apesar de não haver lei que o proíba. Três em cada quatro
judeus em Israel consideram o casamento com árabes uma traição nacional. O
governo israelense fez, no ano passado, uma campanha que desencorajava
judeus a se casarem com pessoas de outras religiões. A propaganda na TV
mostrava cartazes de rapazes e moças desaparecidos colados em postes e
estações de metrô. Com isso, tentava-se vender a ideia de que um judeu em um
casamento misto está "perdido" do ponto de vista da comunidade. Nos
subúrbios de Tel-Aviv, alguns cidadãos fazem patrulha para supreender casais
de árabes e judeus e coibir os namoros mistos. A Justiça nunca havia tomado
uma decisão oficializando o tabu.
Um encontro casual em uma rua de Jerusalém há dois anos mudou a vida do
árabe israelense Sabbar Kashur, de 30 anos. Ele fazia entregas em um mercado
quando uma mulher judia puxou conversa. O rapaz se apresentou como "Dudu" -
diminutivo de Daniel entre os israelenses -, e não mencionou que era casado
e pai de dois filhos. Os dois foram para o quarto de um hotel nas redondezas
e fizeram sexo. Depois, a mulher descobriu sua origem árabe e o denunciou à
polícia, alegando ter sido estuprada. Kashur foi detido e desde então
esperou o julgamento em prisão domiciliar. Na semana passada, foi condenado
a dezoito meses de cadeia. A Justiça entendeu que ele é culpado porque
sugeriu ser uma coisa que não era - judeu - para seduzir a mulher, cuja
identidade não foi revelada. "O tribunal é obrigado a proteger o interesse
público de criminosos sofisticados e de boa conversa que podem enganar
vítimas inocentes a um preço insuportável: a santidade de seu corpo e alma",
disse o juiz Tzvi Segal. Em Israel, o estupro é punido com até dezesseis
anos de prisão. Para aliviar a sentença, o réu admitiu a culpa e foi
condenado pelo crime menos grave de violação sexual mediante fraude. "No
Brasil, também existe essa figura jurídica, mas ela se aplica a situações em
que o violador tem uma posição de poder e usa argumentos enganosos, como uma
promessa de emprego, para convencer a vítima a fazer sexo", explica a
advogada criminalista Fernanda Tórtima, do Rio de Janeiro.
Para o jurista Kenneth Mann, da Universidade de Direito (sic) de Tel-Aviv, o
veredicto foi exagerado e pode estabelecer um precedente perigoso. "A
sentença abre a possibilidade de um homem ser acusado de estupro toda vez
que mentir a uma mulher para fazer sexo com ela", diz Mann. Na condenação de
Kashur, que ainda pode ser revertida pela Corte Suprema, há uma agravante: a
intolerância religiosa. Os árabes israelenses compõem 20% da população. Eles
são cidadãos com passaporte do país, mas identificam-se mais com os
palestinos. O relacionamento amoroso entre árabes e judeus é um tabu para
ambos os grupos, apesar de não haver lei que o proíba. Três em cada quatro
judeus em Israel consideram o casamento com árabes uma traição nacional. O
governo israelense fez, no ano passado, uma campanha que desencorajava
judeus a se casarem com pessoas de outras religiões. A propaganda na TV
mostrava cartazes de rapazes e moças desaparecidos colados em postes e
estações de metrô. Com isso, tentava-se vender a ideia de que um judeu em um
casamento misto está "perdido" do ponto de vista da comunidade. Nos
subúrbios de Tel-Aviv, alguns cidadãos fazem patrulha para supreender casais
de árabes e judeus e coibir os namoros mistos. A Justiça nunca havia tomado
uma decisão oficializando o tabu.
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